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A psicologia do homem fraco

Autor: Roberto Marchesini 1 
Tradução: Rafael de Abreu Ferreira – www.rafaeldeabreu.com.br

A sociedade atual ignora ou despreza as virtudes. Assim como as virtudes moldam  a sociedade, o mesmo acontece com o desprezo delas. O desprezo da prudência leva ao  triunfo da ideologia; o desprezo pela justiça tem como consequência o igualitarismo em  todas as suas formas — entre as quais podemos citar a mais atual, a ideologia do gênero  —; o desprezo da temperança leva a dependências – sexuais, alimentares etc. — tudo isso  proporciona trabalho para muitos psicólogos. 

A fortaleza é a capacidade de enfrentar e suportar o sofrimento pelo amor; é a  disposição de arriscar a própria vida para salvá-la, para salvar a honra — isto é, a  dignidade humana — pela fidelidade aos próprios valores; é assertividade e coragem. 

Em nível individual, a falta de fortaleza é chamada de «dependência emocional» e consiste em uma dependência excessiva do julgamento dos outros — que a tradição  costuma chamar de «respeito humano» —. É sobre o medo de perder a apreciação dos  outros, ser julgado de forma negativa, de não ser amado; é a sujeição excessiva às opiniões  de outros que conduzem, invariavelmente, à renúncia de afirmar a própria opinião, os  próprios valores, o próprio juízo. 

Em nível social, a falta de fortaleza coincide com o chamado «politicamente  correto», isto é, a renúncia da afirmação da própria posição não tanto — como dizem — para não ferir os sentimentos dos outros, mas para que os nossos não sejam feridos, de  modo que não nos exponhamos a um eventual julgamento negativo dos outros. O  «politicamente correto» tem consequências políticas, sociais e culturais, e cria um mundo  em que é cada vez mais difícil ser forte. O «politicamente correto», associa a fortaleza ao  abuso, à prepotência, à violência, suscitando sensações desagradáveis para esta virtude.  No entanto, a fortaleza é um estímulo para a violência, e, muitas vezes, a única defesa  contra ela. 

Entre os muitos fenômenos emergentes destes últimos anos seguramente está a  crise do homem, enquanto varão. É fraco, cansado, desmotivado, passivo, solitário. É  triste. Alguns homens estão deprimidos, inseguros, ansiosos; outros experimentam um  sentido de inadequação, tanto na família como no trabalho, como com os demais homens;  outros têm uma baixa autoestima e pouca confiança em si mesmo e em suas capacidades;  muitos se sentem tímidos, medrosos, fracos. 

O homem contemporâneo não é incentivado a ser forte, mas belo. Cosméticos,  tratamentos de beleza, bronzeamentos, depilação, shopping, trajes e acessórios da moda,  academia: estas são as características do homem metrossexual, transformado  posteriormente — porque o mercado sempre tem gula de novidades — em «übersexual».  

1 Psicólogo e psicoterapeuta, trabalha na Itália como consultor, educador e terapeuta. 

Um homem «suficientemente gay», ou seja, feminino tanto do ponto de vista psicológico  quanto do ponto de vista físico, com pele suave, lisa, depilada, perfumada… 

Se um homem quer ser tido em boa estima, ele deve estar absolutamente alheio  aos conflitos, não resolvido, atento aos sentimentos em vez de alcançar objetivos, inerte,  passivo e, portanto, inócuo. A propósito, ele deve ser um homem não-viril. 

O homem fraco, então, é um homem em crise. Porque a autoestima dos homens  está ligada particularmente à percepção da própria fortaleza. Se um homem não se  percebe forte, capaz de defender aos que ama, eficaz e capaz de resolver problemas, perde  a confiança em si mesmo, perde seu papel, seu lugar no mundo. O homem forte é um  homem viril. O termo virilidade deriva do latim, língua que utiliza dois substantivos  diferentes para referir-se ao homem: vir e homo. O mesmo sucede no grego: anér anthropos. Homo e anthropos indicam o homem enquanto macho, ao passo que vir e anér  remetem à pessoa masculina plenamente realizada, isto é, ao herói. O homem plenamente  realizado, é um homem viril, é um homem forte. 

A crise da fortaleza é para o homem uma crise de identidade: ele não sabe mais  quem ele é, como ele é, como deve ser e como os outros o querem. O resultado da perda  da virilidade dos homens é a desorientação, a sensação de inutilidade; refugiar-se no  trabalho, não concebido como uma contribuição para a sociedade, mas como um nicho  de proteção; a fuga da realidade, que se torna mais aceitável com anestésicos de diferentes  tipos — prostituição, pornografia, álcool —; e até mesmo problemas psicológicos — ansiedade, depressão, sociofobia etc. 

Cuidar da própria virilidade significaria, para muitos homens, redescobrir sua  capacidade de entregar-se, de amar e de sacrificar-se, de assumir responsabilidades para  a própria família e a sociedade, de renunciar aos anestésicos citados anteriormente e parar  de proteger-se e se autocompadecer. Multiplicam-se os livros e os cursos acerca da  assertividade, concebida como antídoto ao estresse e à depressão; mas a assertividade — do latim asserere, afirmar com força —, não é simplesmente outro nome para indicar  fortaleza? 

Uma das características do homem é sua relativa estabilidade emocional, que o  diferencia da mulher. O homem fraco, em vez disso, é geralmente muito instável: pode  passar da euforia para o desespero em um instante. E normalmente o que o faz passar do  «cume ao precipício», ou vice-versa, é o juízo alheio: basta um elogio para que o homem  fraco se sinta no sétimo céu, um olhar de desaprovação e parece que o mundo está para  acabar. Parece que o homem fraco dança ao som do juízo alheio. É uma das consequências  da falta de autoestima. 

A autoestima é a certeza que somos «bons», é uma casca protetora que evita que  nosso eu entre em crise com cada mudança de vento. Uma pessoa que tem uma boa  autoestima tem a certeza de que é «boa», e não coloca em dúvida esta certeza por um  juízo negativo ou um erro cometido; portanto, no máximo, experimenta um sentido de  culpabilidade: «eu sou bom, mas cometi um erro». A pessoa que não tem autoestima, em  vez disso, considera não haver adquirido sua própria «bondade», vive na vergonha — «eu  sou um erro» — ou no temor da vergonha, e tem a contínua necessidade de que os demais  o confirmem.

Esta é outra característica dos homens fracos: se encontram continuamente em  busca de confirmações, e é uma busca sem fim, porque nenhuma confirmação recebida é  suficiente para afastar as dúvidas acerca da adequação de si mesmo. Por que motivo as  confirmações recebidas nunca são animadoras? A razão é simples: porque, para serem eficazes, as confirmações dever ser merecidas e sinceras. E, o que impende que sejam? A  atitude de quem as pedem. Para proteger o próprio eu diante de uma eventual rejeição, de  um possível juízo negativo, muitas vezes o homem fraco usa um disfarce sedutor,  condescendente, que manifesta aos demais o rosto que ele considera que os agradaria.  Deste modo, porém, as confirmações recebidas se encontram viciadas desde o princípio  pela dúvida de que não sejam nem merecidas nem sinceras. Crê desta maneira num círculo  vicioso que pega o homem fraco nessa busca desesperada de confirmações ineficazes que  o tornam mais ou menos inseguro. 

O medo do juízo dos demais — a dependência afetiva ou, em termos clássicos, «o  respeito humano» —, domina a vida do homem fraco: tem medo de se expor, de tomar  uma postura, de levantar-se contra as injustiças, expressar seu pensamento. O que mais  teme não é a ira, a reação de raiva, mas voltar a viver a angústia de não ser entendido, de  voltar a sentir-se diferente de todos os demais, impossibilitado de comunicar; em outras  palavras, a vergonha, a humilhação, o ridículo. Para evitar esta sensação, o homem fraco pode recorrer a diversas estratégias, além do disfarce acima mencionado. 

Por exemplo, o perfeccionismo, que se manifesta em controlar dezenas de vezes  a mais simples comunicação, na obsessiva atenção pela ordem e a limpeza, em sempre  chegar a compromissos com uma pequena antecedência — nunca com um minuto atraso! —. O homem fraco deve ser perfeito, não pode conceder o mínimo erro no que diz, nem  no que faz; um erro somente tem o poder de evocar seu pior pesadelo: a humilhação  pública. 

Às vezes tem a sensação de ser um pouco tonto: nunca tem — como gostaria — uma resposta rápida, uma frase fulminante, a palavra adequada no momento adequado.  Também esta, na realidade, é uma consequência do perfeccionismo. O homem fraco não  é estúpido nem lento: ao contrário, é demasiado inteligente e veloz. Nas situações que  considera potencialmente perigosas se comporta como um jogador de xadrez para quem  cada jogada pode pôr em risco sua vida: diante de qualquer movimento do adversário — 

ou pior, enquanto se aproxima do tabuleiro de xadrez — pensa em toda possível jogada,  nas possíveis contra jogadas do outro, e assim sucessivamente. Quando está decidido qual  é a jogada perfeita se dá conta que tem diante de si uma cadeira vazia: o adversário se foi,  a partida acabou e ele não fez nenhum movimento. O homem fraco sempre tem diante de  si duas alternativas dramáticas e impossíveis: ser perfeito ou ser o pior desperdício da  humanidade, tudo ou nada, branco ou preto; seu mundo é farisaico, sem misericórdia — e muitas vezes também sua fé se encontra cheia de escrúpulos —, sem segundas  possibilidades, sem gradações. Este é, com efeito, o modo pela qual a pessoa que nunca  se sente amada de modo incondicional — o que, obviamente não significa que não tenha  sido amada com este tipo de amor — imagina a si mesmo e o mundo. 

Segundo o psicólogo holandês Conrad Baars (1919-1981), podemos sentir-nos amados através de dois tipos de amor: condicional e incondicional.

Sentir-se amados incondicionalmente significa experimentarmos como dignos do  amor independentemente de nossa própria beleza, das qualificações no colégio, dos  resultados no esporte etc. Significa que é bom só pelo fato de existir, de ser objeto de um  amor gratuito, que não deve nem pode ser correspondido. Aquele que não se sente amado  dessa maneira pode pensar que não é digno de amor por ser o que é e que só pode merecer  o amor dos outros tornando-se como — segundo ele — os outros querem que ele seja.  Pode chegar a pensar que a única forma de amor que merece é um amor condicional — a  condição, quer dizer, de ser bom menino, de responder às exigências dos demais, de ser  bom estudante, de não dar preocupação aos pais etc. — e, portanto, dedicar a vida à dramática tentativa de se adequar às expectativas dos demais, com a esperança de obter  uma migalha de amor a qual, do contrário, não teria direito. Ele não sente que pode ser  amado como ele é: ou chega a ser tal como os demais o querem, ou é indigno do amor.  Daqui nasce a visão dicotômica — «tudo ou nada» — de si mesmo e do mundo e o desejo  de perfeccionismo. 

Lamentavelmente, esta visão não só a tem para si ou para o mundo, mas também  para os outros: se o mundo funciona assim, os outros também devem ser perfeitos ou  merecer apenas serem desprezados. Toda pessoa — especialmente os homens — é  submetida ao mesmo exame implacável ao qual o homem fraco se sente submetido: se  olha com uma lupa, analisa, julga severamente com base na pergunta angustiante «é  melhor que eu? quanto é melhor que eu?». Se, de acordo com os critérios muito pessoais  do homem fraco — isto é, em geral, das características que ele sabe que faltam — o outro  é julgado perfeito, ele se torna objeto de uma espécie de veneração; se, por outro lado, o  outro é considerado inferior a si mesmo, ele se torna objeto do mesmo desprezo  implacável do qual o homem fraco se sente objeto por parte do mundo. O homem fraco busca amizade, estima e pertencimento, mas por esta visão do mundo masculino  concebido como um lugar onde se dá uma competição feroz, nada pode alcançar.  Frequentemente chama de amizade suas relações com homens que percebe como  superiores — na realidade, relações de adulação e servilismo — ou inferiores — percebido como inócuo porque eles não estão a sua altura. 

Estas reflexões nos permitem entender que a fortaleza não depende somente — desde o ponto de vista psicológico, certamente não espiritual — das tendências sociais,  mas também das relações familiares: para os homens, a autoestima é não só consequência,  mas também causa da fortaleza. Ambas as coisas se encontram indissoluvelmente  vinculadas: cultivar uma significa aumentar a outra. 

Outra forma de defesa é o cinza, o anonimato, a tentativa de se esconder e imitar  de modo a não ser descoberto no flagrante crime de existir indignamente. Muitas vezes,  com efeito, o homem fraco se sente constantemente observado, medido, julgado,  valorizado; sempre e somente em negativo. Se alguém olha para você com certeza é  porque notou algo ridículo, errado ou feio; se alguém ri, ele está rindo dele; se alguém  conspirar, ele é o objeto da discussão. Esta paranoia é a consequência de seu sentido de  inferioridade: se sente inadequado, equivocado, e seu pior temor é que os demais se deem  conta de que ele é assim. Esta é sua constante preocupação, sua ideia fixa que o  acompanha todo dia; nada há de estranho, portanto, no fato de que tenha desenvolvido  uma particular hipersensibilidade do juízo alheio. Existe, portanto, o anonimato e o cinza  como um escudo protetor contra o julgamento implacável do mundo. Porém, na realidade, 

esta tentativa por não sofrer somente pode causar mais sofrimento: todos desejam ser  vistos, considerados, amados, e rejeitam a insignificância e o anonimato. Muitas vezes  essa dor é apaziguada por comportamentos transgressivos, que nos fazem sentir vivos,  ativos, donos de nós mesmos e de nossas vidas. 

A imagem que o homem fraco tem de si mesmo é frequentemente a de um anti herói, um herói patético, solitário, triste, destinado ao fracasso. Identificar-se com tal tipo  de herói é uma forma de se autocompadecer, atitude muito recorrente entre os homens  fracos: se ninguém lhe diz, falar para si mesmo «quão pobre sou…» é consolador. Cria  uma imagem frágil de si mesmo, débil, incapaz de enfrentar virilmente as adversidades  da vida. E é justamente isto que frequentemente o homem fraco pensa de si mesmo: «sou  um pobre menino que precisa de amor, um franguinho molhado». 

Esta imagem de si pode explicar uma atitude típica dessas pessoas: se têm alguma  necessidade, não pedem. No mundo dos adultos, no qual se presume que as pessoas têm  os mesmos direitos e deveres, cada um é livre para pedir, e deixa os demais livres para  negar o pedido. Porém, nas relações entre adultos e crianças, o adulto não é livre, tem — 

de algum modo — o dever de ocupar-se da criança e o fundamento deste dever deste  adulto — que libera a criança do dever de pedir — radica na desigualdade entre os dois. 

O homem fraco, com respeito às outras pessoas, sente-se como uma criança que  os outros devem cuidados e amabilidade. Por isso não pede: se pedisse aceitaria uma  relação livre e igual com os adultos, e em consequência, o cansaço e a responsabilidade que tal relação exige; mas ele está convencido de que os demais lhe devem algo porque  ele sofre, é fraco, pequeno e frágil. Perguntado a esse respeito, o homem fraco poderia  responder: «se tenho que pedir não serve, teria que sair espontaneamente dele/dela… se  tenho que pedir significa que não me ama o suficiente, que não me entende…». Deste  modo, o homem fraco se encaixa em uma enésima decepção, sofre uma nova injustiça e  é confirmado à imagem do pobre e pouco compreendido, com o qual ninguém se importa. 

No fim, um círculo vicioso infinito que afasta o homem da realidade que é,  obviamente, muito diferente: os demais não são tão cuidadosos para ele porque não veem  razão para sê-lo, pois têm diante de si um homem adulto, maduro e inteligente, capaz de  cuidar de si mesmo ou de expressar suas necessidades, se é que as tem. Exatamente como  todas as pessoas. 

O homem fraco às vezes sofre também no trabalho: sente-se oprimido, esmagado,  arrastado, invadido, não respeitado. Na realidade, o que causa estas sensações  desagradáveis é, mais uma vez, a atitude passiva, irresponsável e delegante escrita acima.  Quem reclama do fato de que os outros não o respeitam, alguma vez pediu a eles que o  respeitassem, ou sempre permitiu que outros o tratassem dessa maneira? São os outros os  que tomam como certo o consentimento do seu colega, ou é este último que nunca disse  «não», colocou um limite, expressou uma contrariedade? É a empresa quem pratica o  assédio moral em relação ao pobre homem fraco, ou é este alguém que renuncia  constantemente a qualquer possibilidade de fazer carreira ou mostrar o seu valor  profissional? A resposta desanimadora do homem fraco é sempre a mesma: «ela deve  surgir dos outros, são os outros que precisam».

E por quê? Qual é a razão pela qual os demais deveriam preocupar-se com uma  pessoa que nunca, nem sequer de forma tímida, ousou deixar claro suas dificuldades,  fadiga, sobrecarga, estresse? O fato é que o homem fraco, frequentemente, prefere se  queixar, regozijar masoquistamente no papel de pobre vítima, alimentar o rancor em  silêncio mais do que enfrentar abertamente — e virilmente — a questão com os colegas  e superiores. 

Qual pode ser o motivo desta conduta absurda? Simples: o medo. O medo a uma  reação desagradável da parte dos demais, ser rejeitado, humilhado, perder a imagem de  «bom menino», construída com anos de esforços e já vivida como a própria e verdadeira  identidade. Em poucas palavras, o medo de não ser amado. Mas a demonstração sempre  condescendente e disponível, sorridente e satisfeito, o renunciar dos próprios direitos e  — às vezes — a própria dignidade, permite o homem fraco ganhar o amor dos demais?  Obviamente, não. A tentativa desesperada de agradar a todos tem consequência inevitável  de não agradar a ninguém, incluindo ele mesmo. 

O homem fraco pode muitas vezes ser detectado pela atitude moralista rígida que  ele demonstra em relação a algumas características do mundo masculino: frequentemente  ouve-o falar com desprezo sobre futebol ou de quem gosta desse esporte; de quem  expressa, com força e autoconfiança, conceitos — na melhor das hipóteses — politicamente incorretos; de quem tem maneiras tipicamente masculinas de agir. O que é  típico não é estar satisfeito com um modelo masculino generalizado, mas com o desprezo  desse modelo. Por que este ressentimento, este rancor? Por que considerar com esnobismo  e superioridade, por exemplo, o futebol e não outros esportes que talvez não agradem o  homem fraco? Pelo que o futebol representa — pelo menos em alguns países — ou seja,  um símbolo do mundo masculino, pelo qual o homem fraco se sente rejeitado. É a atitude  bem desenhada por Fedro em sua fábula La zorra e las uvas. Movida pela fome, a raposa  tentou levar a uva de outro cacho, saltando com todas as suas forças, mas não conseguiu  alcançá-la; então ela saiu dizendo: «ainda não está maduro, eu não quero pegá-la». Quem  menospreza com palavras o que não é capaz de fazer, deve referir-se a este exemplo.  (Platão) 

Muitas vezes o homem fraco prefere a companhia feminina que a masculina. Pode  parecer uma contradição, mas não é: com os homens, pelo menos com aqueles que  manifestam uma certa virilidade, eles se sentem em competição e, pior ainda, se sente  certamente derrotado. A companhia das mulheres, neste ponto de vista, é tranquilizadora,  já que não somente não há competição e, ainda por cima, os que em seu mundo masculino  estereotipado são considerados como defeitos — sensibilidade, cultura, senso artístico,  gosto estético, refinamento, bom tom… —, tornam-se pontos de mérito no contexto de  uma companhia feminina. 

É uma reserva protegida, assim como amizades com homens mais fracos do que  ele: um porto seguro e acolhedor que evita o incômodo de ter de se comparar com o  perigoso mar aberto. Sua relação com as mulheres é paritária, não é complementar: evita, com efeito, assumir cuidadosamente o papel masculino que despreza — a raposa e as  uvas… — e que — está convencido — as mulheres também desprezam. 

Partindo de sua suposta diferença com respeito ao viril mundo masculino, e de sua  atenção para a sensibilidade feminina — muitas vezes exercida através do cuidado 

prestado a uma mãe sofredora, talvez por causa de um homem —, ele está sinceramente  convencido que sente o que as mulheres sentem, e vice-versa, que as mulheres se  encontram em sintonia com ele no desprezo da virilidade. Na companhia delas procura  de qualquer maneira afastar a suspeita de virilidade, acreditando ser mais bem aceito: ele  é um bom ouvinte, compreensivo, receptivo, paciente, sexualmente inócuo. Praticamente,  um ursinho de pelúcia. 

Normalmente, as mulheres aceitam com gosto a companhia deste homem  «diferente» de seus namorados e maridos, tão insensíveis, rudes, agressivos e duros. Deste  modo, acentuam mais a sensação de diferença do homem fraco, e sua «unicidade» com  respeito ao mundo masculino. 

Além disso, o homem fraco é muitas vezes secretamente apaixonado por uma de  suas «amigas» e acentua suas características «femininas» com a garantia de que ele será  mais valorizado. O desapontamento vem quando, no momento de se declarar, ele ouve  frases como «estou muito lisonjeada, mas só vejo você como amigo»; ou quando ele  percebe que a sua «amiga» prefere, com razão, o homem — inevitavelmente viril — em  relação a quem manifestou mais vezes o desprezo. 

Estratégia equivocada. Não somente porque se os homens se manifestam a uma  mulher como «amigos» é inevitável que ela o rotule desse modo; mas também porque um  «amigo» não tem nada diferente ou especial a respeito de outras amigas mulheres, e  sobretudo porque as mulheres preferem o viril ao sensível. 

Pelo menos é o que surge de uma pesquisa publicada em março de 2008 pela  revista mensal Playboy, segundo a qual 71% das mulheres italianas «sentiam falta de  homens do passado» especialmente por suas características viris, em particular «as  atitudes um tanto feias e resolvidas também com o casal» — e que, no entanto, as fazem  sentir «protegidas» — e «a atitude arrogante» (54%), «o ar desleixado» (43%) e «a  habilidade e tenacidade no cortejo» (36%). Segundo a mesma investigação, o julgamento  das mulheres italianas em relação ao homem metrossexual é implacável; com efeito, elas  consideram «muito efeminado» (52%), «suave» (36%), «mimado» (51%) e «vulnerável» (39%), «obcecado pelo cuidado de seu corpo e exageradamente pendente da estética», 

uma «criança eterna» (56%), «incapaz de tomar decisões» (44%). 

Os homens fracos também se casam, às vezes com mulheres dotadas de um caráter  mais determinado e resoluto do que o dele. Eles amam e estimam sinceramente sua  esposa, mas não o suficiente para si mesmos; acontece que eles acreditam que não  merecem a sorte de ter uma companheira tão maravilhosa e, portanto, acreditam que têm  uma dívida que eles têm que resolver. Como? Preenchendo-a com atenção continuada,  satisfazendo todos os seus desejos mesmo antes de poder expressá-los, renunciando a  manifestar seus próprios desejos por medo de magoá-la, transformando-se em mordomo,  garçom, motorista, ajudante, garçom, cartão de crédito, capacho… 

Em suma, a mesma história: também neste caso, o homem fraco renuncia à  afirmação de si mesmo na tentativa de comprar a apreciação dos outros. Também, nesta  ocasião, a estratégia, na maioria dos casos, está errada. Com efeito, que mulher desejaria  um homem que se manifesta sem caráter, incapaz de tomar decisões, passivo e  negligente?

Não é de admirar, portanto, que a mulher do homem débil, depois de um tempo,  decida abandoná-lo, talvez — como é frequentemente o caso — por outro homem menos  disponível e atento, mas seguramente mais viril, talvez também do ponto de vista sexual.  Porque não é raro que o homem fraco também manifeste problemas dessa natureza, como  a impotência ou a ejaculação precoce. A razão é simples: ele está convencido — sempre  por causa de seu sentimento de inferioridade — que não pode garantir um desempenho  sexual igual às ostentações de outros homens, que ele desapontará sua parceira — talvez  muito exigente — que vale pouco também do ponto de vista sexual. 

E mais: qual é o símbolo da masculinidade? Não é de admirar, portanto, que — por estranho que pareça — o homem fraco é, mais frequentemente do que você imagina,  convencido de que ele tem um pênis pequeno. Muito pequeno, ridículo, vergonhoso,  embaraçoso. As garantias médicas sobre a normalidade do órgão, ou a eventual  comparação com outros homens — uma comparação que obviamente evita porque é  considerado um perdedor antecipadamente — não servem para nada. A convicção  permanece, impermeável a qualquer tentativa de convencer e provar os fatos. O homem  fraco tem a certeza de que ele não é um homem como os outros. Considerando que a  chamada ansiedade pelo desempenho masculino é o pior inimigo de uma vida sexual  serena e satisfatória, é absolutamente lógico e consistente que o homem fraco tenha algum  problema sexual. Do que ele deduz, é óbvio, uma confirmação adicional de sua  inferioridade com relação aos «normais». 

Em suma, a vida do homem fraco é uma vida miserável. É compreensível,  portanto, que ele possa tentar encontrar alívio em seu sofrimento na busca de prazer. É  esta a área em que certas dependências manifestadas pelo homem fraco devem ser  compreendidas: masturbação, pornografia, prostituição, doces, álcool, drogas etc. É  normal que aqueles que se sintam mal procurem estar melhor, mas o prazer não permite  estar bem: é sempre uma solução temporária à qual é necessário retornar, uma vez que o  efeito tenha desaparecido — daí a dependência —; e quando o efeito desaparece, o  homem se sente ainda mais frágil, sozinho, fraco. É simplesmente um anestésico, um  antidepressivo, nunca uma solução. 

Mas existe uma solução? É possível mudar? Certamente isso pode ser tentado. 

PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO: 
MARCHESINI, Roberto. A psicologia do homem fraco. (Tradução: FERREIRA, Rafael de Abreu, Barra Velha, Santa  Catarina, Brasil, 2019). 2019.

  1. Psicólogo e psicoterapeuta, trabalha na Itália como consultor, educador e terapeuta. ↩︎

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