Autor: Roberto Marchesini 1
Tradução: Rafael de Abreu Ferreira – www.rafaeldeabreu.com.br
A sociedade atual ignora ou despreza as virtudes. Assim como as virtudes moldam a sociedade, o mesmo acontece com o desprezo delas. O desprezo da prudência leva ao triunfo da ideologia; o desprezo pela justiça tem como consequência o igualitarismo em todas as suas formas — entre as quais podemos citar a mais atual, a ideologia do gênero —; o desprezo da temperança leva a dependências – sexuais, alimentares etc. — tudo isso proporciona trabalho para muitos psicólogos.
A fortaleza é a capacidade de enfrentar e suportar o sofrimento pelo amor; é a disposição de arriscar a própria vida para salvá-la, para salvar a honra — isto é, a dignidade humana — pela fidelidade aos próprios valores; é assertividade e coragem.
Em nível individual, a falta de fortaleza é chamada de «dependência emocional» e consiste em uma dependência excessiva do julgamento dos outros — que a tradição costuma chamar de «respeito humano» —. É sobre o medo de perder a apreciação dos outros, ser julgado de forma negativa, de não ser amado; é a sujeição excessiva às opiniões de outros que conduzem, invariavelmente, à renúncia de afirmar a própria opinião, os próprios valores, o próprio juízo.
Em nível social, a falta de fortaleza coincide com o chamado «politicamente correto», isto é, a renúncia da afirmação da própria posição não tanto — como dizem — para não ferir os sentimentos dos outros, mas para que os nossos não sejam feridos, de modo que não nos exponhamos a um eventual julgamento negativo dos outros. O «politicamente correto» tem consequências políticas, sociais e culturais, e cria um mundo em que é cada vez mais difícil ser forte. O «politicamente correto», associa a fortaleza ao abuso, à prepotência, à violência, suscitando sensações desagradáveis para esta virtude. No entanto, a fortaleza é um estímulo para a violência, e, muitas vezes, a única defesa contra ela.
Entre os muitos fenômenos emergentes destes últimos anos seguramente está a crise do homem, enquanto varão. É fraco, cansado, desmotivado, passivo, solitário. É triste. Alguns homens estão deprimidos, inseguros, ansiosos; outros experimentam um sentido de inadequação, tanto na família como no trabalho, como com os demais homens; outros têm uma baixa autoestima e pouca confiança em si mesmo e em suas capacidades; muitos se sentem tímidos, medrosos, fracos.
O homem contemporâneo não é incentivado a ser forte, mas belo. Cosméticos, tratamentos de beleza, bronzeamentos, depilação, shopping, trajes e acessórios da moda, academia: estas são as características do homem metrossexual, transformado posteriormente — porque o mercado sempre tem gula de novidades — em «übersexual».
1 Psicólogo e psicoterapeuta, trabalha na Itália como consultor, educador e terapeuta.
Um homem «suficientemente gay», ou seja, feminino tanto do ponto de vista psicológico quanto do ponto de vista físico, com pele suave, lisa, depilada, perfumada…
Se um homem quer ser tido em boa estima, ele deve estar absolutamente alheio aos conflitos, não resolvido, atento aos sentimentos em vez de alcançar objetivos, inerte, passivo e, portanto, inócuo. A propósito, ele deve ser um homem não-viril.
O homem fraco, então, é um homem em crise. Porque a autoestima dos homens está ligada particularmente à percepção da própria fortaleza. Se um homem não se percebe forte, capaz de defender aos que ama, eficaz e capaz de resolver problemas, perde a confiança em si mesmo, perde seu papel, seu lugar no mundo. O homem forte é um homem viril. O termo virilidade deriva do latim, língua que utiliza dois substantivos diferentes para referir-se ao homem: vir e homo. O mesmo sucede no grego: anér e anthropos. Homo e anthropos indicam o homem enquanto macho, ao passo que vir e anér remetem à pessoa masculina plenamente realizada, isto é, ao herói. O homem plenamente realizado, é um homem viril, é um homem forte.
A crise da fortaleza é para o homem uma crise de identidade: ele não sabe mais quem ele é, como ele é, como deve ser e como os outros o querem. O resultado da perda da virilidade dos homens é a desorientação, a sensação de inutilidade; refugiar-se no trabalho, não concebido como uma contribuição para a sociedade, mas como um nicho de proteção; a fuga da realidade, que se torna mais aceitável com anestésicos de diferentes tipos — prostituição, pornografia, álcool —; e até mesmo problemas psicológicos — ansiedade, depressão, sociofobia etc.
Cuidar da própria virilidade significaria, para muitos homens, redescobrir sua capacidade de entregar-se, de amar e de sacrificar-se, de assumir responsabilidades para a própria família e a sociedade, de renunciar aos anestésicos citados anteriormente e parar de proteger-se e se autocompadecer. Multiplicam-se os livros e os cursos acerca da assertividade, concebida como antídoto ao estresse e à depressão; mas a assertividade — do latim asserere, afirmar com força —, não é simplesmente outro nome para indicar fortaleza?
Uma das características do homem é sua relativa estabilidade emocional, que o diferencia da mulher. O homem fraco, em vez disso, é geralmente muito instável: pode passar da euforia para o desespero em um instante. E normalmente o que o faz passar do «cume ao precipício», ou vice-versa, é o juízo alheio: basta um elogio para que o homem fraco se sinta no sétimo céu, um olhar de desaprovação e parece que o mundo está para acabar. Parece que o homem fraco dança ao som do juízo alheio. É uma das consequências da falta de autoestima.
A autoestima é a certeza que somos «bons», é uma casca protetora que evita que nosso eu entre em crise com cada mudança de vento. Uma pessoa que tem uma boa autoestima tem a certeza de que é «boa», e não coloca em dúvida esta certeza por um juízo negativo ou um erro cometido; portanto, no máximo, experimenta um sentido de culpabilidade: «eu sou bom, mas cometi um erro». A pessoa que não tem autoestima, em vez disso, considera não haver adquirido sua própria «bondade», vive na vergonha — «eu sou um erro» — ou no temor da vergonha, e tem a contínua necessidade de que os demais o confirmem.
Esta é outra característica dos homens fracos: se encontram continuamente em busca de confirmações, e é uma busca sem fim, porque nenhuma confirmação recebida é suficiente para afastar as dúvidas acerca da adequação de si mesmo. Por que motivo as confirmações recebidas nunca são animadoras? A razão é simples: porque, para serem eficazes, as confirmações dever ser merecidas e sinceras. E, o que impende que sejam? A atitude de quem as pedem. Para proteger o próprio eu diante de uma eventual rejeição, de um possível juízo negativo, muitas vezes o homem fraco usa um disfarce sedutor, condescendente, que manifesta aos demais o rosto que ele considera que os agradaria. Deste modo, porém, as confirmações recebidas se encontram viciadas desde o princípio pela dúvida de que não sejam nem merecidas nem sinceras. Crê desta maneira num círculo vicioso que pega o homem fraco nessa busca desesperada de confirmações ineficazes que o tornam mais ou menos inseguro.
O medo do juízo dos demais — a dependência afetiva ou, em termos clássicos, «o respeito humano» —, domina a vida do homem fraco: tem medo de se expor, de tomar uma postura, de levantar-se contra as injustiças, expressar seu pensamento. O que mais teme não é a ira, a reação de raiva, mas voltar a viver a angústia de não ser entendido, de voltar a sentir-se diferente de todos os demais, impossibilitado de comunicar; em outras palavras, a vergonha, a humilhação, o ridículo. Para evitar esta sensação, o homem fraco pode recorrer a diversas estratégias, além do disfarce acima mencionado.
Por exemplo, o perfeccionismo, que se manifesta em controlar dezenas de vezes a mais simples comunicação, na obsessiva atenção pela ordem e a limpeza, em sempre chegar a compromissos com uma pequena antecedência — nunca com um minuto atraso! —. O homem fraco deve ser perfeito, não pode conceder o mínimo erro no que diz, nem no que faz; um erro somente tem o poder de evocar seu pior pesadelo: a humilhação pública.
Às vezes tem a sensação de ser um pouco tonto: nunca tem — como gostaria — uma resposta rápida, uma frase fulminante, a palavra adequada no momento adequado. Também esta, na realidade, é uma consequência do perfeccionismo. O homem fraco não é estúpido nem lento: ao contrário, é demasiado inteligente e veloz. Nas situações que considera potencialmente perigosas se comporta como um jogador de xadrez para quem cada jogada pode pôr em risco sua vida: diante de qualquer movimento do adversário —
ou pior, enquanto se aproxima do tabuleiro de xadrez — pensa em toda possível jogada, nas possíveis contra jogadas do outro, e assim sucessivamente. Quando está decidido qual é a jogada perfeita se dá conta que tem diante de si uma cadeira vazia: o adversário se foi, a partida acabou e ele não fez nenhum movimento. O homem fraco sempre tem diante de si duas alternativas dramáticas e impossíveis: ser perfeito ou ser o pior desperdício da humanidade, tudo ou nada, branco ou preto; seu mundo é farisaico, sem misericórdia — e muitas vezes também sua fé se encontra cheia de escrúpulos —, sem segundas possibilidades, sem gradações. Este é, com efeito, o modo pela qual a pessoa que nunca se sente amada de modo incondicional — o que, obviamente não significa que não tenha sido amada com este tipo de amor — imagina a si mesmo e o mundo.
Segundo o psicólogo holandês Conrad Baars (1919-1981), podemos sentir-nos amados através de dois tipos de amor: condicional e incondicional.
Sentir-se amados incondicionalmente significa experimentarmos como dignos do amor independentemente de nossa própria beleza, das qualificações no colégio, dos resultados no esporte etc. Significa que é bom só pelo fato de existir, de ser objeto de um amor gratuito, que não deve nem pode ser correspondido. Aquele que não se sente amado dessa maneira pode pensar que não é digno de amor por ser o que é e que só pode merecer o amor dos outros tornando-se como — segundo ele — os outros querem que ele seja. Pode chegar a pensar que a única forma de amor que merece é um amor condicional — a condição, quer dizer, de ser bom menino, de responder às exigências dos demais, de ser bom estudante, de não dar preocupação aos pais etc. — e, portanto, dedicar a vida à dramática tentativa de se adequar às expectativas dos demais, com a esperança de obter uma migalha de amor a qual, do contrário, não teria direito. Ele não sente que pode ser amado como ele é: ou chega a ser tal como os demais o querem, ou é indigno do amor. Daqui nasce a visão dicotômica — «tudo ou nada» — de si mesmo e do mundo e o desejo de perfeccionismo.
Lamentavelmente, esta visão não só a tem para si ou para o mundo, mas também para os outros: se o mundo funciona assim, os outros também devem ser perfeitos ou merecer apenas serem desprezados. Toda pessoa — especialmente os homens — é submetida ao mesmo exame implacável ao qual o homem fraco se sente submetido: se olha com uma lupa, analisa, julga severamente com base na pergunta angustiante «é melhor que eu? quanto é melhor que eu?». Se, de acordo com os critérios muito pessoais do homem fraco — isto é, em geral, das características que ele sabe que faltam — o outro é julgado perfeito, ele se torna objeto de uma espécie de veneração; se, por outro lado, o outro é considerado inferior a si mesmo, ele se torna objeto do mesmo desprezo implacável do qual o homem fraco se sente objeto por parte do mundo. O homem fraco busca amizade, estima e pertencimento, mas por esta visão do mundo masculino concebido como um lugar onde se dá uma competição feroz, nada pode alcançar. Frequentemente chama de amizade suas relações com homens que percebe como superiores — na realidade, relações de adulação e servilismo — ou inferiores — percebido como inócuo porque eles não estão a sua altura.
Estas reflexões nos permitem entender que a fortaleza não depende somente — desde o ponto de vista psicológico, certamente não espiritual — das tendências sociais, mas também das relações familiares: para os homens, a autoestima é não só consequência, mas também causa da fortaleza. Ambas as coisas se encontram indissoluvelmente vinculadas: cultivar uma significa aumentar a outra.
Outra forma de defesa é o cinza, o anonimato, a tentativa de se esconder e imitar de modo a não ser descoberto no flagrante crime de existir indignamente. Muitas vezes, com efeito, o homem fraco se sente constantemente observado, medido, julgado, valorizado; sempre e somente em negativo. Se alguém olha para você com certeza é porque notou algo ridículo, errado ou feio; se alguém ri, ele está rindo dele; se alguém conspirar, ele é o objeto da discussão. Esta paranoia é a consequência de seu sentido de inferioridade: se sente inadequado, equivocado, e seu pior temor é que os demais se deem conta de que ele é assim. Esta é sua constante preocupação, sua ideia fixa que o acompanha todo dia; nada há de estranho, portanto, no fato de que tenha desenvolvido uma particular hipersensibilidade do juízo alheio. Existe, portanto, o anonimato e o cinza como um escudo protetor contra o julgamento implacável do mundo. Porém, na realidade,
esta tentativa por não sofrer somente pode causar mais sofrimento: todos desejam ser vistos, considerados, amados, e rejeitam a insignificância e o anonimato. Muitas vezes essa dor é apaziguada por comportamentos transgressivos, que nos fazem sentir vivos, ativos, donos de nós mesmos e de nossas vidas.
A imagem que o homem fraco tem de si mesmo é frequentemente a de um anti herói, um herói patético, solitário, triste, destinado ao fracasso. Identificar-se com tal tipo de herói é uma forma de se autocompadecer, atitude muito recorrente entre os homens fracos: se ninguém lhe diz, falar para si mesmo «quão pobre sou…» é consolador. Cria uma imagem frágil de si mesmo, débil, incapaz de enfrentar virilmente as adversidades da vida. E é justamente isto que frequentemente o homem fraco pensa de si mesmo: «sou um pobre menino que precisa de amor, um franguinho molhado».
Esta imagem de si pode explicar uma atitude típica dessas pessoas: se têm alguma necessidade, não pedem. No mundo dos adultos, no qual se presume que as pessoas têm os mesmos direitos e deveres, cada um é livre para pedir, e deixa os demais livres para negar o pedido. Porém, nas relações entre adultos e crianças, o adulto não é livre, tem —
de algum modo — o dever de ocupar-se da criança e o fundamento deste dever deste adulto — que libera a criança do dever de pedir — radica na desigualdade entre os dois.
O homem fraco, com respeito às outras pessoas, sente-se como uma criança que os outros devem cuidados e amabilidade. Por isso não pede: se pedisse aceitaria uma relação livre e igual com os adultos, e em consequência, o cansaço e a responsabilidade que tal relação exige; mas ele está convencido de que os demais lhe devem algo porque ele sofre, é fraco, pequeno e frágil. Perguntado a esse respeito, o homem fraco poderia responder: «se tenho que pedir não serve, teria que sair espontaneamente dele/dela… se tenho que pedir significa que não me ama o suficiente, que não me entende…». Deste modo, o homem fraco se encaixa em uma enésima decepção, sofre uma nova injustiça e é confirmado à imagem do pobre e pouco compreendido, com o qual ninguém se importa.
No fim, um círculo vicioso infinito que afasta o homem da realidade que é, obviamente, muito diferente: os demais não são tão cuidadosos para ele porque não veem razão para sê-lo, pois têm diante de si um homem adulto, maduro e inteligente, capaz de cuidar de si mesmo ou de expressar suas necessidades, se é que as tem. Exatamente como todas as pessoas.
O homem fraco às vezes sofre também no trabalho: sente-se oprimido, esmagado, arrastado, invadido, não respeitado. Na realidade, o que causa estas sensações desagradáveis é, mais uma vez, a atitude passiva, irresponsável e delegante escrita acima. Quem reclama do fato de que os outros não o respeitam, alguma vez pediu a eles que o respeitassem, ou sempre permitiu que outros o tratassem dessa maneira? São os outros os que tomam como certo o consentimento do seu colega, ou é este último que nunca disse «não», colocou um limite, expressou uma contrariedade? É a empresa quem pratica o assédio moral em relação ao pobre homem fraco, ou é este alguém que renuncia constantemente a qualquer possibilidade de fazer carreira ou mostrar o seu valor profissional? A resposta desanimadora do homem fraco é sempre a mesma: «ela deve surgir dos outros, são os outros que precisam».
E por quê? Qual é a razão pela qual os demais deveriam preocupar-se com uma pessoa que nunca, nem sequer de forma tímida, ousou deixar claro suas dificuldades, fadiga, sobrecarga, estresse? O fato é que o homem fraco, frequentemente, prefere se queixar, regozijar masoquistamente no papel de pobre vítima, alimentar o rancor em silêncio mais do que enfrentar abertamente — e virilmente — a questão com os colegas e superiores.
Qual pode ser o motivo desta conduta absurda? Simples: o medo. O medo a uma reação desagradável da parte dos demais, ser rejeitado, humilhado, perder a imagem de «bom menino», construída com anos de esforços e já vivida como a própria e verdadeira identidade. Em poucas palavras, o medo de não ser amado. Mas a demonstração sempre condescendente e disponível, sorridente e satisfeito, o renunciar dos próprios direitos e — às vezes — a própria dignidade, permite o homem fraco ganhar o amor dos demais? Obviamente, não. A tentativa desesperada de agradar a todos tem consequência inevitável de não agradar a ninguém, incluindo ele mesmo.
O homem fraco pode muitas vezes ser detectado pela atitude moralista rígida que ele demonstra em relação a algumas características do mundo masculino: frequentemente ouve-o falar com desprezo sobre futebol ou de quem gosta desse esporte; de quem expressa, com força e autoconfiança, conceitos — na melhor das hipóteses — politicamente incorretos; de quem tem maneiras tipicamente masculinas de agir. O que é típico não é estar satisfeito com um modelo masculino generalizado, mas com o desprezo desse modelo. Por que este ressentimento, este rancor? Por que considerar com esnobismo e superioridade, por exemplo, o futebol e não outros esportes que talvez não agradem o homem fraco? Pelo que o futebol representa — pelo menos em alguns países — ou seja, um símbolo do mundo masculino, pelo qual o homem fraco se sente rejeitado. É a atitude bem desenhada por Fedro em sua fábula La zorra e las uvas. Movida pela fome, a raposa tentou levar a uva de outro cacho, saltando com todas as suas forças, mas não conseguiu alcançá-la; então ela saiu dizendo: «ainda não está maduro, eu não quero pegá-la». Quem menospreza com palavras o que não é capaz de fazer, deve referir-se a este exemplo. (Platão)
Muitas vezes o homem fraco prefere a companhia feminina que a masculina. Pode parecer uma contradição, mas não é: com os homens, pelo menos com aqueles que manifestam uma certa virilidade, eles se sentem em competição e, pior ainda, se sente certamente derrotado. A companhia das mulheres, neste ponto de vista, é tranquilizadora, já que não somente não há competição e, ainda por cima, os que em seu mundo masculino estereotipado são considerados como defeitos — sensibilidade, cultura, senso artístico, gosto estético, refinamento, bom tom… —, tornam-se pontos de mérito no contexto de uma companhia feminina.
É uma reserva protegida, assim como amizades com homens mais fracos do que ele: um porto seguro e acolhedor que evita o incômodo de ter de se comparar com o perigoso mar aberto. Sua relação com as mulheres é paritária, não é complementar: evita, com efeito, assumir cuidadosamente o papel masculino que despreza — a raposa e as uvas… — e que — está convencido — as mulheres também desprezam.
Partindo de sua suposta diferença com respeito ao viril mundo masculino, e de sua atenção para a sensibilidade feminina — muitas vezes exercida através do cuidado
prestado a uma mãe sofredora, talvez por causa de um homem —, ele está sinceramente convencido que sente o que as mulheres sentem, e vice-versa, que as mulheres se encontram em sintonia com ele no desprezo da virilidade. Na companhia delas procura de qualquer maneira afastar a suspeita de virilidade, acreditando ser mais bem aceito: ele é um bom ouvinte, compreensivo, receptivo, paciente, sexualmente inócuo. Praticamente, um ursinho de pelúcia.
Normalmente, as mulheres aceitam com gosto a companhia deste homem «diferente» de seus namorados e maridos, tão insensíveis, rudes, agressivos e duros. Deste modo, acentuam mais a sensação de diferença do homem fraco, e sua «unicidade» com respeito ao mundo masculino.
Além disso, o homem fraco é muitas vezes secretamente apaixonado por uma de suas «amigas» e acentua suas características «femininas» com a garantia de que ele será mais valorizado. O desapontamento vem quando, no momento de se declarar, ele ouve frases como «estou muito lisonjeada, mas só vejo você como amigo»; ou quando ele percebe que a sua «amiga» prefere, com razão, o homem — inevitavelmente viril — em relação a quem manifestou mais vezes o desprezo.
Estratégia equivocada. Não somente porque se os homens se manifestam a uma mulher como «amigos» é inevitável que ela o rotule desse modo; mas também porque um «amigo» não tem nada diferente ou especial a respeito de outras amigas mulheres, e sobretudo porque as mulheres preferem o viril ao sensível.
Pelo menos é o que surge de uma pesquisa publicada em março de 2008 pela revista mensal Playboy, segundo a qual 71% das mulheres italianas «sentiam falta de homens do passado» especialmente por suas características viris, em particular «as atitudes um tanto feias e resolvidas também com o casal» — e que, no entanto, as fazem sentir «protegidas» — e «a atitude arrogante» (54%), «o ar desleixado» (43%) e «a habilidade e tenacidade no cortejo» (36%). Segundo a mesma investigação, o julgamento das mulheres italianas em relação ao homem metrossexual é implacável; com efeito, elas consideram «muito efeminado» (52%), «suave» (36%), «mimado» (51%) e «vulnerável» (39%), «obcecado pelo cuidado de seu corpo e exageradamente pendente da estética»,
uma «criança eterna» (56%), «incapaz de tomar decisões» (44%).
Os homens fracos também se casam, às vezes com mulheres dotadas de um caráter mais determinado e resoluto do que o dele. Eles amam e estimam sinceramente sua esposa, mas não o suficiente para si mesmos; acontece que eles acreditam que não merecem a sorte de ter uma companheira tão maravilhosa e, portanto, acreditam que têm uma dívida que eles têm que resolver. Como? Preenchendo-a com atenção continuada, satisfazendo todos os seus desejos mesmo antes de poder expressá-los, renunciando a manifestar seus próprios desejos por medo de magoá-la, transformando-se em mordomo, garçom, motorista, ajudante, garçom, cartão de crédito, capacho…
Em suma, a mesma história: também neste caso, o homem fraco renuncia à afirmação de si mesmo na tentativa de comprar a apreciação dos outros. Também, nesta ocasião, a estratégia, na maioria dos casos, está errada. Com efeito, que mulher desejaria um homem que se manifesta sem caráter, incapaz de tomar decisões, passivo e negligente?
Não é de admirar, portanto, que a mulher do homem débil, depois de um tempo, decida abandoná-lo, talvez — como é frequentemente o caso — por outro homem menos disponível e atento, mas seguramente mais viril, talvez também do ponto de vista sexual. Porque não é raro que o homem fraco também manifeste problemas dessa natureza, como a impotência ou a ejaculação precoce. A razão é simples: ele está convencido — sempre por causa de seu sentimento de inferioridade — que não pode garantir um desempenho sexual igual às ostentações de outros homens, que ele desapontará sua parceira — talvez muito exigente — que vale pouco também do ponto de vista sexual.
E mais: qual é o símbolo da masculinidade? Não é de admirar, portanto, que — por estranho que pareça — o homem fraco é, mais frequentemente do que você imagina, convencido de que ele tem um pênis pequeno. Muito pequeno, ridículo, vergonhoso, embaraçoso. As garantias médicas sobre a normalidade do órgão, ou a eventual comparação com outros homens — uma comparação que obviamente evita porque é considerado um perdedor antecipadamente — não servem para nada. A convicção permanece, impermeável a qualquer tentativa de convencer e provar os fatos. O homem fraco tem a certeza de que ele não é um homem como os outros. Considerando que a chamada ansiedade pelo desempenho masculino é o pior inimigo de uma vida sexual serena e satisfatória, é absolutamente lógico e consistente que o homem fraco tenha algum problema sexual. Do que ele deduz, é óbvio, uma confirmação adicional de sua inferioridade com relação aos «normais».
Em suma, a vida do homem fraco é uma vida miserável. É compreensível, portanto, que ele possa tentar encontrar alívio em seu sofrimento na busca de prazer. É esta a área em que certas dependências manifestadas pelo homem fraco devem ser compreendidas: masturbação, pornografia, prostituição, doces, álcool, drogas etc. É normal que aqueles que se sintam mal procurem estar melhor, mas o prazer não permite estar bem: é sempre uma solução temporária à qual é necessário retornar, uma vez que o efeito tenha desaparecido — daí a dependência —; e quando o efeito desaparece, o homem se sente ainda mais frágil, sozinho, fraco. É simplesmente um anestésico, um antidepressivo, nunca uma solução.
Mas existe uma solução? É possível mudar? Certamente isso pode ser tentado.
PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:
MARCHESINI, Roberto. A psicologia do homem fraco. (Tradução: FERREIRA, Rafael de Abreu, Barra Velha, Santa Catarina, Brasil, 2019). 2019.
- Psicólogo e psicoterapeuta, trabalha na Itália como consultor, educador e terapeuta. ↩︎