Grande parte da psicologia atual está absorvida nos maiores vícios humanos e isso se reflete em seu modo de atuar. Estimular desordens, muitas vezes, é marca registrada nos seus autores – fato observado na forma de viver deles – e, consequentemente, faz com que pessoas que lutam para manter o mínimo de sanidade no seu dia a dia e sintam a necessidade de buscar ajuda profissional, afastem-se da psicoterapia, com medo de terem suas vidas desordenadas dentro dos consultórios. A criação do autor desordenado acaba sendo uma teoria com desordens que deságua no modo de ver o homem, de tratá-lo etc.
Algo está ordenado quando respeita a sua hierarquia própria. Logo, um filho que desrespeita um pai agredindo-o, sai de uma reta ordem natural provocando assim um ato desordenado e gerando um vetor de desordem para sua vida. O prazer sexual, trazendo um outro exemplo, fora da reta ordem, escraviza a pessoa em uma vida apenas de prazer e isso gera um vetor de desordem como, por exemplo, uma baixa tolerância à frustração, dificuldade de fazer coisas que custam certo esforço etc. Se a ausência de ordem gera um vetor de desordem, logo, podemos perceber que diante da crise que vivemos no campo da psicologia, temos uma psicoterapia que acaba sendo vetor de inúmeras desordens nos pacientes terminando por desintegrar o ser humano.
A desordem desintegra e a ordem une. Uma vida ordenada faz com que o homem seja uma unidade de forma prática em que as partes estejam unidas ao todo. Dessa forma podemos ter o exemplo de uma mulher que está fazendo dieta. Nesta dieta ela enfrenta o desejo de comer alimentos que não podem e ao vencer este desejo dispõe a si mesma como uma unidade em que o bem maior daquela situação seria a saúde física, que viria através da dieta, que teria que fazer com que seus sentidos cooperem para esta finalidade. Conseguindo fazer este movimento, ela termina o dia ou aquele momento mais feliz e se sentindo mais integral pois não foi incoerente consigo mesma.
Uma coisa é certa: o homem precisa da psicologia. Mas precisa de uma psicologia ordenada. De uma psicologia que esteja inserida na realidade e que leve a corresponder de modo objetivo diante da vida que se apresenta. Como diz a psicóloga tomista e doutora em filosofia, Zelmira Seligmann, “aquele que chega ao psicólogo procura respostas, procura ajuda naquilo que ele mesmo não consegue entender, porque – no final – ele procura a verdade inevitável.”. O homem não quer uma psicologia estimuladora de vícios, quer uma psicologia que estimule as virtudes.
Diante do interesse com o que se passa dentro dele mesmo e de como melhorar determinado aspecto que o incomoda tanto pessoalmente quanto em relação aos outros, o homem tem sede da verdade, daquela verdade que fará com que sua vida seja efetivamente livre e não uma falsa liberdade que aprisiona a pessoa em atos e pensamentos. O homem no fundo deseja se ordenar.
Por conta disso, uma psicologia ordenada é o que este homem precisa e a Psicologia Tomista possui um arcabouço teórico e prático pronto para ordenar a vida do homem.
É vital então que profissionais e leigos não desistam de uma boa psicologia e certamente encontrarão na Psicologia Tomista um caminho seguro para o profissional e paciente encontrarem uma luz de esperança. Por muito tempo os profissionais viveram no abismo de teorias vazias, pouco práticas e/ou embebidas de ideologias que nada ajudam a quem precisa.
“Mas santo Tomás fez psicologia?” Sim!
De acordo com o Padre Ignacio Andereggen: “Toda a Segunda Parte da Suma Teológica, dedicada a estudar o homem como imagem de Deus, é um grande tratado de psicologia fundamental, não só teórica, mas também prática.” 1
A Psicologia Tomista será então como uma bússola que orienta a caminhada existencial do homem; quanto mais intacta se preserve a ordem, mais ajudará o homem a relacionar-se consigo mesmo, com as demais pessoas e com o mundo de maneira saudável e realista, de modo que o senso de proporções seja preservado. Somos seres dinâmicos e precisamos preservar esse dinamismo vital em nós.
Alguém psiquicamente saudável é alguém que consegue ser dinâmico, ou seja, consegue se movimentar ordenadamente dentro da sua realidade, respondendo objetivamente e de modo ordenado às demandas do seu dia dia. O inverso disso é quando uma pessoa é vencida por uma emoção desordenada que o paralisa diante de uma realidade que pede movimentação. Essa paralisia é uma falta de movimentação em direção ao ordenado. A pessoa continua se movimentando, porém não mais para o que é reto e sim para alguma atração que fere a hierarquia, provocando um vetor de desordem.
Uma boa psicologia precisa ajudar o paciente a se conhecer. Só assim é possível falar de desenvolvimento humano. Neste ponto a Psicologia Tomista com sua característica também prática, nos dá as virtudes para esses objetivos. Para a Psicologia Tomista, o aqui e agora são a oportunidade perfeita para se ordenar. Sem as virtudes, a ordem e uma dinâmica ordenada teremos avanços medíocres e conquistas vazias. Por isso, o homem não deve desistir de procurar a psicoterapia, mas não qualquer psicoterapia; deve procurar uma que o ajude a crescer e que não o amarre nos vícios.
Buscam-se então as virtudes ou, inevitavelmente, cai-se no abismo dos erros e vícios. Acredita-se na realidade ou acredita-se em qualquer coisa.
O homem só conseguirá conhecer-se diante de um olhar ordenado para ele mesmo. Eis a vital necessidade do profissional ser ordenado para auxiliar o paciente na busca de si mesmo.
Para o homem ser efetivamente bom, ele precisará necessariamente das virtudes: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Elas são virtudes principais e contribuem para uma formação saudável do caráter; pois, negligenciando as virtudes, o caráter humano é deformado pelos vícios. Diante desse contexto, manter-se equilibrado psiquicamente está relacionado com o desenvolvimento das virtudes, que, longe de ser somente um adestramento humano, é uma disposição interna. Quanto mais o homem se desenvolve nas virtudes mais livre ele é, pois, como diz o próprio Aquinate, “um ato de virtude não é mais que o bom uso do livre arbítrio.”. Dessa forma, o homem precisa de uma ordem interna que o oriente no seu mundo externo. Diante disso, o único caminho é preservar as potências superiores da sua alma: a Inteligência e a Vontade.
Longe de ser governado por instâncias inconscientes da sua psique, — que seria como ser movido pelo que há de desordem dentro dele — pois assim o homem acabaria trilhando um caminho de alienamento de si mesmo, e “uma alma alienada de si mesma, logo a desordem segue”, ensina-nos Fulton Sheen.
Assim sendo, o homem, afastado do caminho de ordenamento, torna-se presa fácil do que há de desordem dentro dele, pois o homem é “extraordinariamente engenhoso na arquitetura de sua infelicidade… o homem se encarrega frequentemente de inventar sua desventura”. 2 Diante do ponto de partida de que fomos mal-educados em algum grau na vida, o homem precisa da verdade da ordem para que retorne ao caminho de uma paz efetiva e longe das máscaras que faz desenvolver uma hipocrisia existencial.
O homem ordenado tem no centro da sua personalidade a inteligência, pois é com ela que se apreende a verdade das coisas e esta, informando à vontade, passa então a desejar essas verdades apreendidas, deslocando-o em direção ao bem. O agir do homem depende da vontade iluminada pelo intelecto que quer ver a verdade. “O homem é um guia para si mesmo” — lembra-nos Zelmira Seligmann — “pela inteligência que captura a realidade. É por isso que vemos a importância do conhecimento da verdade, da qual surge a ação moral. A importância de ser muito honesto na busca pela verdade; não viver enganando-se, mentindo para si mesmo.”.
Uma psicologia saudável então ajudará o paciente obter a coragem para ser efetivamente ordenado, algo tão caro numa sociedade e para algumas psicologias que querem que o homem somente realize seus desejos como um eterno bebê. Nessa busca pelo prazer, em que se exclui a realidade, o homem caminha a passos largos para as neuroses, porque vai, mais cedo ou mais tarde, rebelar-se contra a realidade simplesmente pelo fato dela não ser como ele queria. A imperfeição vista de si mesmo na realidade não deve afastar o homem de buscar para sua própria vida um aperfeiçoamento para uma relação pessoal e interpessoal.
Assim sendo, longe de buscar uma redefinição da humanidade que só levaria ao caos, a Psicologia Tomista busca preservar a ordem natural do homem em busca da verdade, da ordem e da felicidade; porque, como nos lembra o maior psicólogo tomista da atualidade, Martín Echavarría, “por natureza queremos, e não podemos deixar de querer, a felicidade.”.