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A ação humana ordenada

Muitos pacientes chegam aos consultórios com queixas parecidas: “Não estou fazendo nada certo”. “Eu escolhi isso aqui, deu errado”. E isso acontece muito com relacionamento. “Não fiquei com o cara”. “Eu estou com aquela menina”. “Deu tudo errado”. “Não sei o que que houve”… os pacientes simplesmente não conseguem visualizar onde estão errando. Eles sabem que estão fazendo escolhas, mas ficam perdidos quanto à qualidade da escolha. Podem até pensar que estão escolhendo errado, mas por que estão escolhendo errado? Aqui está o ponto. Podemos colocar esses pacientes em uma trinca: 

1. Ser ignorante (não saber o que deveria);
2. Fraqueza (não ter a força que deveria);
3. Maldade (agir deliberadamente pelo mal).

Essa trinca atrapalha uma ação humana ordenada. Isto é, a ação humana ordenada fica prejudicada pela fraqueza, pela ignorância e pela maldade. Então, quando os pacientes chegam dessa forma, com este tipo de sofrimento, por escolher de uma forma ruim, é possível visualizar de forma muito clara o critério da escolha. Qual é o critério de escolha desse paciente? É como se ele não escolhesse pela cabeça (razão), mas pelo “sensível”. Essa escolha pelo sensível significa uma escolha através do que é agradável ao seu lado emocional e/ou parte sensível. 

O que é mais gostoso: a água ou uma coca-cola? O que tem mais gosto? O que é mais agradável ao nosso paladar? Pelo caminho da sensibilidade acredito que todos vão responder que é a coca-cola. Então se o meu critério de escolha é um critério sensível, eu só vou tomar a Coca-cola.

Nessa perspectiva, é possível visualizar que os pacientes chegam escolhendo as coisas de forma irracional, ou seja, eles não pensam sobre aquilo que estão escolhendo porque ficam cegos por um aspecto sensível. Então, o que “pensa” é a parte sensível. E esta parte sensível vai falar o seguinte: “Eu quero aquilo que é gostoso”. E esse critério de escolha valerá para tudo na vida. No trabalho que será mal feito. Na família, que não será cuidada… pois custa esforço. Porque o critério de escolha é através da sensibilidade. E nesse critério de escolha da sensibilidade, se retorna para uma existência infantil que, em que a criança quer fazer o que ela bem entende naquele momento imediato, porque ela sentiu “vontade”.

Podemos pensar em uma outra esfera de escolhas baseadas na sensibilidade: a esfera da adolescência. Porque a adolescência vai ficar naquele critério que o adolescente acha que pode fazer tudo que quiser, na hora que quiser, porque acredita que tem esse poder. Essa ilusão da adolescência gera escolhas que prejudicam uma vida madura.

Quantas vezes se ouvem nos consultórios: “Eu sei que eu não quero ficar com aquele cara, eu sei que não tem nada a ver, mas eu tenho medo de ficar sozinha”. Então, o medo de ficar sozinha faz com que a pessoa abrace o inimigo, literalmente. Assim começa uma vida mentirosa porque a pessoa tem o entendimento do que deveria ser feito, mas escolhe aquilo que é sensivelmente mais agradável por mais que prejudique a si mesmo! 

Diante de uma ação humana desordenada as consequências são pacientes viciados, hábitos ruins, justamente porque só escolhem através de um princípio desordenado – escolher pelo agrado sensível como finalidade – gerador de vícios.  

Um exemplo desta desordem que invade as últimas décadas são as pessoas que abominam a ideia de terem filhos. Muitos pacientes estão dentro dessa narrativa porque estão presos em uma perspectiva sensível. Por quê? Porque olha para a possibilidade do filho diante da parte financeira somente, pela parte do trabalho que vai exigir, pelo sacrifício pessoal, etc. Ou seja, o critério de escolha é mais sensível, gerando um pensamento desordenado e uma ação desordenada. Essa desordem consegue, a longo prazo, prejudicar a construção de uma sociedade mais saudável. 

Diante da ação humana desordenada fica evidente a falta de um olhar para a vida através de um amor, um amor ordenado, que é racional. Há um olhar sempre de “ah, vai gastar demais”, “vai dar trabalho demais”… então, vai ficando claro que a ação humana ordenada não deixa a parte sensível definir o que é correto ou o que é errado. O sentimento que se tem diante de algo que acontece à nossa frente não é a resposta final, mas é uma informação inicial. 

Uma dinâmica importante de trabalhar com o paciente é a que coloca a parte sensível no seu devido lugar. Por exemplo: Algo novo acontece na vida do paciente, desperta nele uma sensação, um sentimento que o paciente pode gostar ou não de sentir. Ela pode ficar com medo ou raiva, por exemplo. Mas isso não é o final da situação. Isso é apenas o início. Por quê? Porque o paciente tem liberdade para escolher, porque diante das coisas que acontecem, o sentimento é a primeira impressão. Então, o paciente não pode  ficar na primeira impressão. O sentimento não pode cegar o paciente da opção correta. Se isso acontecer o critério de escolha fica danificado.

Vemos com muita clareza uma sociedade patológica que vive exatamente dessa forma desordenada presa ao sensível.

E o que é, então, uma ação humana ordenada? 

A ação humana passa pela inteligência. A operação do nosso intelecto é o grau mais elevado da ação vital. 1 Dessa forma a função do intelecto é conhecer a dimensão mais profunda da realidade. 2 Julgar as coisas unicamente pela parte sensível é então se relacionar sempre de maneira superficial com algo.

Então quando o paciente tem um sentimento por algo que aconteceu na sua frente, não pode ficar preso somente nessa esfera. É com a inteligência que será possível relacionar por inteiro. É através desse olhar inteligente que será possível enxergar o todo e ao enxergar o todo, será possível encontrar o valor daquilo que é visto. Na ação humana ordenada, a pessoa consegue enxergar o valor de algo. A partir do momento que a pessoa consegue enxergar o valor de algo é que ela poderá superar a parte sensível para uma obter uma escolha saudável. Porém a parte sensível não é para ser descartada da vida humana. O sensível precisará fazer parte do movimento. Não mais como líder, mas como um informante inicial para a inteligência julgar e a vontade de escolher. Se uma pessoa está com preguiça, por exemplo, deverá fazer com preguiça mesmo, porque é o que tem que fazer. A pessoa desse exemplo enxergou o valor e ao visualizar o valor não foi vencido pela sensível – preguiça – apesar de senti-la. 

Ou seja, é preciso enxergar o valor das coisas e lutar para honrar as coisas que têm um grande valor na vida. Isso é vital. Assim a inteligência vai participar do processo de escolha. Os olhos vão ver a situação à frente. Ao ver a situação, aquilo desperta uma sensação. A inteligência julga a sensação e julga o que foi visto. A inteligência  dá o valor daquilo e informa a  vontade para fazer, independente do que sente.

Aqui está a estrutura da ação humana ordenada: 

Os nossos pacientes chegam no consultório sem ter essa estrutura. Então é preciso olhar isso, porque a primazia da inteligência no homem precisa ser valorizada. Esse é um grande ponto: uma ação bem escolhida passa pela inteligência e forma a vontade. Não é uma explosão sentimental, mas é uma ordenação inteligente.

A ação humana ordenada é o exercício humano para agir feito pessoa no lugar de agir como um animal qualquer.

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