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Masculinidade e prudência

A prudência precisa ser bem compreendida. Para a sociedade patológica em que vivemos o prudente é considerado como uma pessoa medrosa que está sempre procurando um motivo para deixar de fazer algo. Ao contrário dessa equivocada definição, a prudência é definida por Santo Tomás como a reta razão no agir (recta ratio agibilium). O homem prudente, então, saberá o que deve fazer (reta razão) e busca aplicar essa virtude em sua vida prática (no agir). Daí podemos tirar a conclusão de que o prudente não é medroso, e sim corajoso, porque fazer o que deve ser feito, e fazer bem, exige do homem coragem.

É através da prudência que o homem vai escolher os melhores meios para realizar aquilo que deve ser alcançado. Isto é, a deliberação correta sobre o agir e a escolha dos meios para realizar a ação. 

Podemos compreender que a virtude da prudência é a virtude que fará o homem agir corretamente dentro da realidade, pois ver a realidade é somente uma parte da virtude da prudência; a outra parte, ainda mais decisiva, é transformar a realidade vista em decisão de ação, em comando: de nada adianta saber o que é bom se não há a decisão de realizar esse bem…1

O homem prudente não é indeciso nem faz escolhas dentro da prisão egoística, que só faria o homem escolher de forma oportunista e por sentimentos infantis. Trata-se de ver a realidade e tomar a decisão certa. Daí a coragem em ser prudente.

Precisamos ter em mente que um aspecto importante da prudência é o reconhecimento de que a direção da vida é competência da pessoa2. Disso decorre a importância da autorresponsabilidade e da consolidação de que essa virtude versa sobre ações contingentes, situadas no “aqui e agora”.3

Se temos essa característica de ação na realidade e no aqui e agora, então o homem precisa entender que a prudência não versa sobre teoremas e ou princípios abstratos e genéricos4.  Como nos diz o grande Josef Pieper em As virtudes fundamentais, a prudência é a virtude do conhecimento do real e da realização do bem. Bem e realidade não podem se separar para o homem prudente.

É a virtude da ação concreta na realidade. Sem ela, o homem cai em uma imaginação que o impede, cada vez mais, de acessar a realidade e, consequentemente, de fazer boas escolhas.

O homem sem a virtude da prudência.

Se a prudência faz com que o homem veja a realidade e escolha a opção correta, logicamente conclui-se que sem ela o homem fará escolhas equivocadas, porque não é mais o bem que está em jogo, mas uma falsa autopreservação que acabará trazendo ao homem uma existência de plástico. 

Outro fator problemático da ausência dessa virtude é a ideia equivocada de bem. Sem a reta razão no agir a classificação dos bens sofre uma fratura que causa um equívoco na hora do homem escolher. A inteligência continua querendo o Bem, o Belo e a Verdade, mas doente da vontade, o homem dá status de bem para o que não deveria. Essa má movimentação entra na perspectiva da autocompaixão neurótica, na qual o homem tem um amor desordenado tão grande sobre si mesmo que não caminha na direção que possibilite a chance de recalcular a rota e se ordenar, ao contrário, expressa-se sempre com intenção de justificar suas falhas e más inclinações para que seus erros sejam validados. Dessa forma, ele rebaixa a noção de Bom, Belo e Verdade ao seu gosto sensível invertendo ou desprezando a hierarquia dos bens.

Sem a prudência, o homem não se torna dócil à realidade, que pede ações objetivas. Sem essa docilidade, que é parte da prudência, o homem rebela-se contra a realidade que não se apresenta da forma que ele quer. É a dinâmica do bebê chorão: não está do jeito que ele deseja, então ele esperneia. Fazer pirraça diante da realidade não fará o homem resolver as coisas e, na verdade, só vai piorar a sua situação.

De acordo com Royo Marín os vícios contrários à prudência são dois: a imprudência e a negligência

Segundo o autor, a imprudência se subdivide em três espécies:

  1. A precipitação. Ela faria o homem agir de forma impulsiva que seria fruto de ser dominado pelas emoções.
  2. A inconsideração. Que faz o homem desprezar as coisas necessárias para uma boa escolha.
  3. A inconstância. Que faz o homem abandonar, por motivos fúteis, o reto caminho e a escolha correta.

Na negligência, o homem não é solícito em empregar, de modo eficaz, o que deve fazer.

A prudência é geralmente atacada pela luxúria, já que ela é resumida como atração pelos prazeres carnais. Desta forma, o homem abandona o que deve fazer por causa de algum prazer momentâneo. 

Alguns exemplos para ilustrar.

. A prudência faz-se necessária para o aperfeiçoamento pessoal. Com ela, o homem poderá enxergar a realidade tal como ela é e poderá escolher corretamente.

. Com essa virtude, o homem saberá hierarquizar as escolhas; e somente com ela o homem poderá ser justo, forte e temperante.

. Com a prudência, o homem será capaz de relacionar-se autenticamente com as pessoas, visto que estar presente na relação com os outros é estar na realidade; e escolher bem nessas relações faz parte da prudência.

. É a virtude que fará com que o homem atue corretamente no presente.

Exercício prático.

Antes de tomar qualquer decisão pense durante cinco minutos em qual será a decisão correta, independentemente dos seus sentimentos. Logo poderá visualizar as decisões certas e poderá escolhê-las. 

  1. LAUAND, Jean. A prudência. A virtude da decisão certa. Martins fontes, São Paulo, 2005. ↩︎
  2. Ibid. ↩︎
  3. Ibid. ↩︎
  4. Ibid. ↩︎

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